Trump inicia a 1°Guerra Mundial Econômica

Na infância, aprendemos um conceito fundamental: “por mais que você seja o cara mais forte do colégio, você não pode arrumar briga com a escola inteira”. Mesmo sendo o mais forte, se 10 pessoas se unirem contra você, com certeza irá apanhar. Esse é um ensinamento básico de vida que, de algum modo, parece não ter sido apreendido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao adotar uma postura agressiva e unilateral em suas políticas comerciais e diplomáticas, Trump pode ser visto como o principal responsável pelo início de uma nova forma de conflito global: a 1° Guerra Mundial Econômica.

A história econômica dos Estados Unidos é marcada por decisões que, muitas vezes, buscavam soluções rápidas e diretas para problemas internos, mas cujas consequências reverberaram de maneira global, muitas vezes em formas imprevisíveis. Para Trump, a solução foi simples: uma estratégia protecionista, impondo tarifas sobre as importações para proteger os empregos americanos e reforçar a produção nacional. Mas, conversando com meu amigo Claudio Gradilone, ele me lembrou de algo fundamental: o Smoot-Hawley de 1930. Parece até uma repetição do que estamos vendo agora.

Essa medida foi uma tentativa de proteger a economia americana após a crise de 1929, mas teve o efeito oposto. Ao tentar proteger a indústria americana durante a Grande Depressão, impondo tarifas elevadas sobre uma ampla gama de produtos estrangeiros, levou a  uma reação em cadeia de retaliações de outros países e  agravaram a crise econômica mundial. E aí o óbvio, o resultado foi devastador: as tarifas de Smoot-Hawley não apenas intensificaram a recessão, mas também aprofundaram a Grande Depressão ao reduzir o comércio global. Mas isso é apenas um resfriado perto do que Trump está causando, pois o mundo agora é outro, muito mais interligado.

Agora, vendo o que Trump está fazendo, me parece que estamos vivendo algo muito semelhante. Ele está atacando economicamente diversos países, mas especialmente a China, e assim travando uma guerra contra o mundo inteiro. Trump parece não perceber que, por mais que os Estados Unidos sejam uma superpotência militar e econômica, enfrentar o mundo todo é impossível.  Na história, outras tentativas de países em dominar o mundo ou desafiar diversas nações ao mesmo tempo sempre terminaram em fracasso. A Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, e Napoleão, na época de sua expansão imperial, são exemplos claros disso. A história mostra que, quando se tenta enfrentar o mundo, o resultado sempre é a derrota.

Para mim, hoje, o que parecia ser uma estratégia agressiva de negociação se transforma, na verdade, em um cenário de caos econômico e insegurança global. A postura de Trump em retaliar em cima de outras retaliações é apenas uma política de orgulho e demonstração de poder, sem qualquer respaldo estratégico. O orgulho é um defeito que impede o ser humano de reconhecer erros, recuar e de pedir desculpas. Como uma criança orgulhosa, ele vai até o fim com suas decisões, mesmo que isso traga caos e desordem para a economia mundial. E o que isso traz? Inflação, recessão, desemprego, pobreza, e uma instabilidade financeira crescente. E o pior: essa incerteza cria um ambiente onde as pessoas ficam receosas de investir, o que só agrava ainda mais a crise.

Além disso, essa postura isolacionista de Trump começa a gerar uma crescente oposição dentro dos Estados Unidos. A tensão econômica pode levar a movimentos populares mais intensos, com protestos nas ruas, como já está acontecendo. Nenhum presidente, por mais poderoso que seja, consegue se manter no poder em uma democracia com tanta rejeição popular. A impopularidade pode, sim, resultar em um impeachment, como vimos no Brasil com Dilma Rousseff. Nesse cenário, o impeachment de Trump, ou a perda de sua influência política, não é algo descartável.

A história nos ensina que o isolamento econômico e as políticas protecionistas são uma faca de dois gumes. Mesmo que Trump consiga sustentar suas medidas no curto prazo, as consequências no longo prazo podem ser devastadoras para os Estados Unidos. Ao tentar enfrentar o mundo, ele não só coloca em risco a economia americana, como também a liderança global que o país sempre teve. E, como todos os outros que tentaram antes dele, Trump pode acabar aprendendo da maneira mais difícil que ninguém vence uma guerra contra o mundo.

Uma frase define todo este cenário: “Para todo problema econômico complexo, existe uma solução simples e burra”.